domingo, 21 de fevereiro de 2016

DIVAGANDO

Vozes vorazes voando em devaneios divergentes
segredos que regressam de um passado insosso
ideias brotando nos brutos ideais

de uma mente insone num sono demente...

NO BANCO DA PRAÇA

Todos os dias por ela eu passava
contemplando sua graça silenciosa.
Tal qual a enigmática Mona Lisa,
ela fazia do banco da praça sua tela
dirigia-me um sorriso carregado de mistérios;
eu acenava, e seguia meu caminho.
Por instantes eu ficava a matutar
nas palavras que aquele sorriso poderia dizer
mas logo eu mergulhava ensandecido
no mundo de contratos, documentos e números
e nela não mais pensava.
Até que um dia pela praça passei
e surpreso notei o banco vazio;
intrigado, continuei meu caminho.
Passaram-se os dias, e o vazio na praça continuava;
irremediavelmente, havia perdido meu sorriso matinal.
A presença daquela ausência começou a pesar
e tarde demais, eu percebi
o enigma por trás daquele sorriso.
Agora sou eu a ocupar o banco da praça
esperando a volta desse amor

que se foi sem nunca ter sido.

CALEIDOSCÓPIO

Mundo
loucura
solidão
tudo
nada
corre
volta
ponto
mesmice
estrada
desconhecido.
Risos
lágrimas
te amo
te odeio
poesia
paralisia
estrelas
abismo
morte
começo
vida
sentido
incógnita
vento
direção
infinito
amor
perdição
escrevo
sofro
sentimento
ausência
desejo
fuga.
Existir
amar
perder
deserto
incerto
destino
você
eu.

INCERTEZAS

Vivo em meio à angústia
de saber que não sei
o que sinto de verdade.
Esse vazio dentro de mim
será pura solidão
ou o deserto resultante
dos sentimentos que expulsei?
Será que sou o que sou?
Ou apenas sou a imagem projetada
que o mundo faz de mim?
Esses versos que escrevo
os escrevo porque quero
ou porque acho que é isso
que o mundo espera de mim?
Os sentimentos aqui descritos
eu os sinto de verdade
ou apenas os uso como uma máscara
para que o mundo veja em mim
um poeta em dúvida?
Não sei de mim mesmo
não sei de mais nada.
Não sei sequer

se algum dia cheguei a saber.

PALAVREANDO

Palavras, meras palavras...
palavras que lavram
as emoções mais intensas
palavras que embalam
as tristezas mais densas
palavras que exalam
as ilusões mais extensas.

Palavras que tocam
os corações parrudos
palavras que falam
aos ouvidos mudos.
Palavras soltas ao vento
capturadas num rápido movimento
e transformadas em poema neste momento.

Palavras que povoam
a imaginação do poeta
tornando reais os sonhos

que a sua imaginação acarreta.

CAMALEÃO

Cheguei à inevitável conclusão:
Sou um camaleão, pois
pra todo lugar que vou
eu preciso ser alguma coisa:
tenho que ser um aluno nota dez
tenho que ser um filho exemplar
tenho que ser o primeiro no vestibular
tenho que ser o melhor no emprego
tenho que ser um cidadão irrepreensível.
Todos querem que eu seja algo
todos querem me mudar
mas ninguém me pergunta
o que eu quero mesmo ser.
Para viver nesta louca realidade
sufoquei a minha vontade;
mudei tanto a minha personalidade

que me esqueci da minha própria verdade.

EM BUSCA DE UMA RESPOSTA

Pergunto às estrelas, ao sol, à lua
não encontro resposta em nenhum lugar
nada adianta às pessoas perguntar
são todas almas mortas, caminhando pela rua.

Em algum lugar do universo
está a resposta que procuro
mas por ora, estou no escuro
e coloco minha dúvida neste verso.

Esta questão é de vital importância
mas ninguém se preocupa em saber
estão todos presos ao seu atarefado viver
preferindo ficar em total ignorância.

Mas tenho esperança de encontrar um dia
alguém que tenha muita sabedoria
e acabe com esta dúvida atroz:
afinal de contas, quem somos nós?

SER POETA

O que é  ser poeta?
Ser poeta é dar vida às palavras
fazer as palavras rirem
fazer as palavras chorarem
fazer as palavras falarem.

Ser poeta é ser rebelde
estar feliz quando todos estão tristes
estar triste quando todos estão felizes
estar louco no meio dos sãos
estar são no meio dos loucos.

Ser poeta é mudar o mundo com os olhos
olhar um verme e ver uma flor
olhar uma gota e ver uma cachoeira
olhar pro chão e ver estrelas.

Ser poeta é sonhar acordado
enxergar de olhos fechados
voar com os pés no chão.

Ser poeta é ser diferente
gritar quando todos estão calados
lutar quando todos estão acomodados.

O que seria deste mundo se não existissem poetas?