domingo, 19 de junho de 2016

DA ILUSÃO À REALIDADE (OU: NÃO FOI POR FALTA DE AVISO)

30 de outubro de 2007. O país entra em polvorosa carnavalesca com a escolha do Brasil como sede da Copa do mundo de 2014.
2 de outubro de 2009. O Rio de Janeiro é escolhido como sede da Olimpíada de 2016.
E desde então nossa pátria amada, idolatrada, salve, salve, mergulhou no mais absoluto estado de delírio, do qual só acordou nesta semana, em que o governador interino do estado do Rio, cuja capital é a "cidade olímpica", decretou estado de calamidade pública em suas finanças, tendo como justificativa a crise econômica pela qual passa o estado e a necessidade de pagar obras dos Jogos.
Desde o início houve vozes que discordavam da realização destes dois eventos aqui no Brasil. Ainda mais num intervalo de tempo tão pequeno. Mas foram chamadas de "antipatriotas", "cri cri", "complexados", e por aí vai... A megalomania brasileira falou mais alto. Teríamos estádios ultramodernos que esfregaríamos na cara do mundo. Obras nababescas transformariam as cidades-sede em metrópoles superiores às capitais europeias. Neymar sozinho traria o caneco para o Brasil, seria o artilheiro e craque da Copa, e se tornaria o novo Pelé. Como "legado da Copa", teríamos o fim das brigas entre torcidas, os cambistas seriam exterminados da face da Terra, as arenas monumentais se tornariam fontes inesgotáveis de dinheiro, e a economia brasileira encheria o cofre com os dólares trazidos pelos gringos. Um estratégico "cinturão de segurança" ao redor do Maracanã pacificou completamente os bairros em torno do sacrossanto palco da final da Copa.
E assim como o 7 X 1 imposto pela Alemanha ruiu a empáfia de "favorito absoluto" do escrete canarinho, os meses seguintes à Copa fizeram o Brasil acordar do seu sonho infame. Denúncias de superfaturamento na construção dos estádios. Obras de infraestrutura que sequer saíram do papel. Estádio sendo interditado sete meses depois da inauguração. Cambistas agindo livremente. Brigas entre torcidas organizadas. Ruas que durante a Copa tinham um policial em cada esquina se transformaram em desertos. Índices de assalto a pedestres dispararam. Tudo como dantes no quartel de Abrantes. E como cereja de um bolo nefasto, o Brasil entra em recessão econômica.
Agora, às portas da Olimpíada, mesmo com a iniciativa privada bancando 50% do evento, corre-se contra o tempo para garantir o pagamento das obras que cabem ao poder público.
Não foi por falta de aviso que se chegou a esta situação. Está mais do que provado que este país não tem a mínima competência para eventos deste porte. Quando terminou o Pan-Americano de 2007, dizia-se que o Rio havia adquirido uma "grande experiência" em megaeventos, e que os erros (leia-se atrasos nas obras) não seriam cometidos novamente. E que TODA A ESTRUTURA DO PAN SERIA APROVEITADA PARA A OLIMPÍADA. E o que se viu? Praticamente tudo teve que ser construído de novo, pois as arenas do Pan não têm padrão olímpico. Estamos vendo instalações sendo entregues ao Comitê Olímpico Internacional sem tempo de realizar eventos-teste. Estamos vendo ciclovia desabando por erros grosseiros de projeto. Estamos vendo o asfalto de um elevado se esfarelando dias depois de inaugurado.
Muita ingenuidade de quem aplaudiu a escolha do Brasil achar que Copa do Mundo e Olimpíada mudariam mesmo alguma coisa, com o nível de dirigentes que nós temos. Não dá pra ter esperança num país em que o presidente aproveita a Copa para favorecer o seu time de coração, obtendo financiamento para a construção de um estádio novinho para ele.
Será que o desfile de atletas famosos por aqui vai mesmo compensar os elefantes brancos que ficarão depois da festa olímpica?