segunda-feira, 29 de agosto de 2016

BRASILEIRO PRECISA APRENDER A TORCER

De acordo com as belas e douradas retrospectivas das Olimpíadas veiculadas à exaustão em todos os telejornais da Globo, o Rio de Janeiro viveu dias de puro encantamento, paz, alegria e segurança. Tudo foi lindo e maravilhoso. Perfeição absoluta. Vila Olímpica entregue inacabada? Um mero "detalhe". Filas quilométricas para entrar nas arenas? Falta de comida nos restaurantes? Pequenos "inconvenientes". Pessoas perdendo provas porque ficaram presas em engarrafamentos? Pequenos "erros de estratégia de tráfego". Aumento de 44% nos roubos a pedestres durante os dias olímpicos? Nada demais - o importante é que "apenas" 3% desses roubos tiveram os turistas como alvo.
Mas o item que mais me chamou atenção nestas matérias pós-olímpicas foi a falácia em relação ao comportamento da torcida. O "Time de Ouro" da Globo teceu altissonantes elogios aos torcedores, que deram um "show de alegria" nas arquibancadas.
Me reservo o direito de discordar completamente. Acompanhei várias transmissões pela TV, e em alguns casos o comportamento dos espectadores não foi tão maravilhoso quanto a turminha global tentou fazer parecer. Esta Olimpíada mostrou como o brasileiro está completamente impregnado pela cultura do futebol e da novela. Pois em várias modalidades diferentes se comportava como se estivesse no Maracanã se esgoelando por seu time do coração ou diante da tela da TV torcendo pelo mocinho e a mocinha da novela das nove. Em esportes coletivos a manifestação do torcedor é perfeitamente válida, mas nas modalidades individuais que exigem concentração absoluta dos atletas, o comportamento dos brasileiros foi execrável.
O que foram as vaias a Renaud Lavillenie na final do salto com vara? Por acaso algum dos presentes ao Engenhão tinha ouvido falar daquele francês antes daquele dia? Alguém conhecia Thiago Braz antes daquele dia? Ah, mas era um brazuca, o que automaticamente o transformava em herói; e o francês, um maldito desgraçado que estava cometendo a "ousadia" de lutar pela medalha de ouro. Por mais que a mídia diga que não, as vaias comprometeram, sim, o desempenho do francês, desconcentrando-o.
Situação semelhante ocorreu na final dos 100 metros rasos. Usain Bolt adentra o estádio, e irrompem aplausos ensurdecedores. Tyson Gay é anunciado, soam vaias estrepitosas. Mais uma vez a luta do mocinho imbatível contra o malvado vilão que quer atrapalhar os bondosos planos de glória de Mr. Bolt... E se houvesse um brasileiro em condições de correr contra Bolt? Será que o jamaicano seria tão idolatrado quanto foi?
O público delirou com a medalha de prata de Diego Hypólito e a de bronze de Arthur Nory no solo. Medalhas que tiveram uma ajudinha providencial dos presentes no ginásio, que nitidamente prejudicaram os ginastas que se apresentaram após os brasileiros, comemorando e vibrando como se fosse um gol cada erro dos concorrentes. Alguns chegaram ao cúmulo de gritar: "Vai cair! Vai cair!". Enquanto isso, na tela da Globo a narradora Glenda Koslowki gritava: "Errou! Errou o movimento! É medalha pro Brasil!". Lamentável.
Se quiser mesmo continuar sediando megaeventos esportivos, o brasileiro tem que aprender que o mundo não é o Maracanã e muito menos a novela das nove.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

NEYMARDEPENDÊNCIA - O PROBLEMA QUE A CBF FINGE NÃO ENXERGAR

Após mais um vexame da seleção masculina de futebol (0 X 0 com o inexpressivo Iraque), Galvão Bueno ficou debatendo mais de uma hora com os comentaristas e convidados da turminha global sobre o tema "O que está acontecendo com a seleção?". Todos chovendo no molhado discorrendo sobre falta de comprometimento, falta de liderança, falta de espírito olímpico, falta disso, falta daquilo...
Mas ninguém, NINGUÉM MESMO, tocou nem de leve na raiz do problema, aquele que tem sido o maior mal da seleção brasileira desde que Neymar foi convocado pela primeira vez para vestir a amarelinha. Desde então CBF e a mídia fazem um esforço indecente para fazer do garoto o "novo Pelé". Isso ficou mais do que evidente na Copa do Mundo. Depois de quatro anos vestindo a camisa 11, na hora de definir a numeração pro Mundial foi jogado nas costas de Neymar o mítico número 10, numa nítida intenção de associar sua imagem à do Rei do Futebol.
A tal "Neymardependência" só foi questionada após o vexaminoso 7 X 1 pra Alemanha. A mídia toda reclamou do protagonismo excessivo em torno de Neymar, como se ela própria não alimentasse essa idolatria. E quando surgiu a oportunidade de a seleção tomar outro rumo após a demissão do Felipão, a CBF retrocede novamente e coloca o Dunga. E o que fez Dunga assim que assumiu a seleção? Colocou no no braço de Neymar a braçadeira de capitão, pondo-o ainda mais em destaque.
Veio a Olimpíada, e a obsessão pelo ouro inédito. E o que disse o sr. Rogério Micale após a convocação do escrete canarinho? Ele disse o seguinte: "Quero ser dependente do Neymar". É assim que se quer recuperar o prestígio do futebol brasileiro? Fazendo a equipe refém de um único jogador? Um excelente jogador, sim, há que se reconhecer seus méritos. Mas não o semideus que a Globo pinta...
Minha sugestão: já que o negócio é jogar tudo nas costas de Neymar, já que ele é tão fantástico assim, que se dispense os outros dez do time brasileiro e deixem-no se virar sozinho contra os 11 adversários...